quinta-feira, 5 de maio de 2011

Autismo e felicidade

Se me perguntarem se fui uma criança infeliz, eu diria que não. Aprendi muitas coisas à frente de minha idade. Diverti-me de maneira diferente e unica. E a minha " bagagem" me tornou na pessoa em que sou.

Crescer com no Espectro de Autismo é como praticar esportes radicais.  Pode causar acidentes, mas, quando entendemos uma " regra social", aquilo pode ser divertido.

Eu por exemplo, sempre girei em tornos de padrões, repetições, regras e objetivos. Além dos interesses " restritos". Era absolutamente insistente e ainda o sou. 

Também passei por quadros mais graves dentro do espectro, onde minhas esteriotipias, maneirismo e modo de ver o mundo poderiam ter me tirado a vida. Como por exemplo, correr no meio da rua e poder ser atropelada. Não ter medo de altura ou animais perigosos. 

O que acredito é que a medicina deve " repensar" o autismo. Afinal, ele está a serviço de melhorar a qualidade de vida dos portadores e garantir um futuro melhor. Eu sou otimista e aprendi a ter fé. Desistir jamais, olhar pra trás, nunca.  

O autismo do lado de fora pode parecer ser " frieza", " egoísmo" e " solidão". Mas, sei que não é isso. 

Quando olham para mim falam que não tenho autismo: tenho amigos, sou inteligente, converso, gosto de ser bonita e UFA! Sou organizada, e conseguirei realizar tudo que quiser. No entanto, elas não sabem o que passei durante a vida. Ou que muitas coisas que parecem fáceis para elas são difíceis para mim. 

Eu tenho dois mundo. Um que é  pouco verbal, outro que é demasiadamente verbal. Não sou duas pessoas. Apenas, posso ver o mundo através de outro ângulo. 

Se acredito na cura para autismo? Sim, claro. Tanto espiritual, quanto científica. Se não acreditasse nisso, não falaria. Para mim, dependendo das limitações a cura seria uma boa idéia.  

terça-feira, 26 de abril de 2011

Multitasking, atividades múltiplas.

Li, recentemente, algo interessante sobre  autismo. No cérebro de um portador de autismo suas partes trabalham de maneira " não-integrada". Algumas áreas ficam " sobrecarregadas", enquanto, outras ficam " livres". Por isso, alguns TID´s necessitam de " estímulos motores" para pensar melhor, em casos graves, alguns precisam destes estímulos para sentirem seus próprios corpos.

Estímulos ou " stims"(em inglês), podem  variar de um simples andar, um flapping(balanço),  um rodopiar ou mesmo tornarem-se violentos e bruscos, como bater a cabeça contra o chão e dar mordidas em si mesmo.

Nós aspergueres, também somos propensos a ter as mesmas experiências sensoriais que outros TIDs mais severos. Um bom exemplo seria como nos portamos diante de um "multistasking" ou atividades múltiplas. Muitas vezes, pessoas me dizem que autistas são " bitolados" numa coisa só e não saem dela. Esta foi a última palavra que ouvi sobre " ser" autista. Eu digo, que muitas vezes, o fato de serem " bitolados" não é uma escolha, é um comportamento "neuro-químico".

Eu, por exemplo, sou bastante afetiva. Sinto-me estimulada a agarrar o primeiro objeto ou pessoa que vejo pela frente e pressionar contra meu peito. Eu tenho carência de afeto. Muitas coisas no autismo, são " automatizadas".

 O cérebro automatiza movimentos, aprendi isso porque pratiquei " artes marciais".O que me atraiu nas artes marciais é que a repetição de movimentos, conseguiu amenizar minha necessidades repetitivas.

Certa vez, enquanto balançava-me numa rede fui impulsionada a girar no ar e cair de bruços(como fazem os gatos), pois a rede estava despencando e conseqüentemente, eu estava caindo. O mais curioso é que eu estava num estado semi-dormente. Isso aconteceu porque meu cérebro entendeu que eu estava " caindo" e como fiz judô, automaticamente, " girei" no ar.

Coisas " estranhas" acontecem quando se é um portador de autismo. Por exemplo, certa vez um rapaz veio consertar nosso computador e trouxe a mãe dele. Ela sentou ao meu lado. Havia muita informação na sala: um rapaz consertando um computador, minha mãe conversando paralelamente com a mãe do rapaz e eu sentada balançando as pernas.

 Meu cérebro selecionou escutar a conversa entre minha mãe e a mulher, automaticamente,  abracei-a fortemente; mas, na minha mente, eu estava abraçando a minha própria mãe, mesmo que estivesse a vendo na minha frente " conversando". Confuso?

Minha mãe dirigiu a palavra a mim, dizendo: " Talita, por que está abraçando a mãe do rapaz?". Meu cérebro queria dizer: " Mas, mãe estou abraçando você". Este foi um dos meus " momentos autisticos". Na SA, autismo, TID, TEA e síndromes afins, temos o "hiperfoco" ou " uma parte pelo todo". Nós focamos em um detalhe e esquecemos do resto.

A última coisa no mundo que alguém irá me dizer é que tenho autismo: gosto de me arrumar e ficar bonita; sou absurdamente inteligente; gosto de ser carinhosa e dizer as pessoas que as amo e que são importantes para mim; gosto de dar presentes e me sentir amada; tenho tristeza, dor, alegria e vontades e pior, SOU TOTALMENTE CONSCIENTE de que existo, o que para alguns, é impossível no autismo.

Meus pais não suportam esta palavra " AUTISMO". Para eles, autismo é uma condição que irá me incapacitar de ser feliz e que me levará a ter uma fama de esquizofrênica, louca, psicótica e doente mental; algo que irá causar reações de preconceito.

Momentos autísticos fazem parte de toda a minha trajetória de vida.

É impossível separar a SA de dispraxia(não sentir a posição do corpo), por isso, a maioria tem "cacografia" e problemas motores. No entanto, quando estamos " concentrados" em algo, sentimos o nosso corpo ganhar peso, forma e volume. Por isso, muitos TIDs são dejaseitados, no entato, conseguem empilhar blocos com grande equilíbrio. Irônico, não?

No meu caso, por ter todas as características " leves", tenho problemas em sentir se minhas pernas estão " abertas" ou " fechadas". Tenho problemas com a postura do meu corpo e até mesmo em sentir se roupas estão bem colocadas: por isso, puxava-se muito minhas calças para que minha bunda não aparecesse em parte. Mas, nos casos graves de autismo, não se sente nem o corpo. Por isso, podem girar e não sentir tontura; não ter real medo de altura. E citando meu exemplo, podem gostar de ler de ponta-a-cabeça.

Quando criança, eu gostava de ler de cabeça para baixo.

Os não-autistas mudam de canal rapidamente, os autistas, não. Muitas vezes, quando alguém conversa comigo tenho dificuldade de mudar de canal, ou seja, de pensamento. Um bom exemplo seria uma grande estrada, com duas pessoas indo em direções bem distintas: Uma começa a gritar e a outra não entende, precisa-se aproximar para escutar muito bem o que lhe é dito. Eu realmente sei que devo dar uma resposta, mas, não consigo mudar de pensamento ou me encaixar na conversa, o que, isso faz as pessoas pensarem que estou " temporariamente surda". Eu simplesmente, gostaria de dizer: " ainda estou pensando no que você me disse e você está dizendo outra coisa".

sábado, 23 de abril de 2011

Rotinas

A primeira coisa percebida em uma criança Asperguer ou Autista é o comportamento rotineiro ou ritualístico. Todas as crianças, em geral, tendem a repetir. É uma particularidade da infância: assitir o mesmo filme;  repetir frases vistas na televisão; ser birrento quanto a comida, repetindo um alimento em detrimento de outros; ser exigente e inflexível,  etc. Todas as crianças fazem isso, autistas (falantes) ou não.

No entanto, na SA, estes comportamentos se estendem até a adolescência e a vida adulta. Por exemplo, crianças falam sozinhas, isso ajuda-as a organizar seus pensamentos, explorar a linguagem e desenvolver seus cognitivo(inteligência, imaginação e emoções).

Aspergueres também falam sozinhos. Não é " esquizofrenia". O Asperguer exerce um controle sob o que faz, ele só foge da realidade quando quer: o esquizofrênico não tem opção, delira, mesmo.

Eu por exemplo, a partir dos 12 anos de idade, já separava estes " dois mundos". Posso dizer que antes dessa idade, fui pega falando sozinha e realizando as esteriotípias do autismo. Depois dos 12 anos, tornou-se muito raro.

Na vida adulta, ainda necessito de um tempo para minhas repetições: sejam de músicas, vídeos, palavras, sons esquisitos ou movimentação. Sem elas, sou propensa a ficar extremamente mal-humorada, sonhar acordado e dormir mal. No entanto, elas dominam pouca parte do meu tempo. Eu me dei conta de que realmente tinha uma forma de autismo, ao assistir, em particular, o vídeo abaixo:


http://www.youtube.com/user/silentmiaow#p/u/10/JnylM1hI2jc

A mulher deste vídeo diz: "Esta é a minha verdadeira linguagem. E a segunda é apenas uma forma de tradução que exige explicações."

Não sou tão esquisita quanto ela, mas, muitas coisas que ela faz, também faço desde criança. Pensei: "não sou a única pessoa do mundo que é assim".

 E como ela,  chamo isso de minha verdadeira linguagem, quando posso ser  eu mesma e não um "personagem" que tem que adivinhar o que os outros querem ou não ouvir.

Sempre fui criticada por  dizer o que penso, e quando estou sozinha, sinto que sou quem sou.

Eu sou o que sou
tenho um coração
um grande sorriso e uma linda canção
Se Deus me fez assim
assim vou louvar


 Não gosto de nenhum olho de urubu me espionando, até porque tenho o intelecto de uma pessoa ABSURDAMENTE NORMAL. Como ela diz no vídeo, nada do que faço tem real simbologia ou significado que possa ser traduzido em palavras. Não domina 100% do meu dia, são apenas detalhes que escapam até de minha própria família. Perguntar porque faço estes tipos de coisa, seria como perguntar a alguém: " por que gosta de montanhas-russas?" A pessoa não conseguirá explicar, mas, dirá que tem prazer em descê-las. Daí, a diferença entre autismo e TOC.


O Asperguer é uma pessoa com traços de autismo, mas, com fala e intelecto intactos. Depois que descobri esta síndrome, não me senti " condenada" por ser diferente. Antes, achava que era a única pessoa do mundo que era assim.

No entanto, entendo que seja anormal aos olhos dos NTs, não é algo que gosto de dividir com pessoas estranhas. Na adolescência, comecei a caminhar e fazer " cooper" para suprir minha vontade de andar. NT´s ficam estressados quando vêem um autista andando de uma lado para o outro, não sabem que fazemos isso para pensar melhor.

Quanto ao funcionamento, sou extremamente funcional. Até mais organizada, dedicada e talentosa que pessoas não autistas. Posso até me gabar, com toda sinceridade, que sou acima da média em quase tudo que faço. Sou polida, bonita, recatada e com alto nível cultural. Poderia ter qualquer profissão que quisesse; também, sou absolutamente sociável, engraçada e criativa.


As nossas rotinas e o nosso jeito não nos incomodam. Em geral, elas são desagradáveis às pessoas que nos cercam.




Outro vídeo que me trouxe uma auto-aceitação foi " Austismo: quebrando padrões".

Neste vídeo, um pai de um autista explica o chamado " comportamento invasivo" de algumas crianças. Ele enfatiza os traços de um homem adulto que parece viver em seu próprio mundo. Este senhor tem brincadeiras extremamente pueris como lançar terra ao vento. Alguns autistas, como ele e eu, gostam muito de interagir com o ambiente que os cerca e " marcar" padrões. Minhas brincadeiras na infância, eram mais repetitivas e esquemáticas que o faz-de-contas a maioria das crianças. O autor do vídeo faz uma pegadinha: "Olhe só este homem severamente autista em seu próprio mundo, ele vive em uma instituição... não, na verdade, ele na verdade,  é um artista renomado, portador de síndrome de asperguer". Seu nome é Andy Goldsworthy.

Para mim, PESSOAS QUE VIVEM DE APARÊNCIA. SÃO AQUELAS QUE SÓ VEEM O EXTERIOR DAS PESSOAS.