Li, recentemente, algo interessante sobre autismo. No cérebro de um portador de autismo suas partes trabalham de maneira " não-integrada". Algumas áreas ficam " sobrecarregadas", enquanto, outras ficam " livres". Por isso, alguns TID´s necessitam de " estímulos motores" para pensar melhor, em casos graves, alguns precisam destes estímulos para sentirem seus próprios corpos.
Estímulos ou " stims"(em inglês), podem variar de um simples andar, um flapping(balanço), um rodopiar ou mesmo tornarem-se violentos e bruscos, como bater a cabeça contra o chão e dar mordidas em si mesmo.
Nós aspergueres, também somos propensos a ter as mesmas experiências sensoriais que outros TIDs mais severos. Um bom exemplo seria como nos portamos diante de um "multistasking" ou atividades múltiplas. Muitas vezes, pessoas me dizem que autistas são " bitolados" numa coisa só e não saem dela. Esta foi a última palavra que ouvi sobre " ser" autista. Eu digo, que muitas vezes, o fato de serem " bitolados" não é uma escolha, é um comportamento "neuro-químico".
Eu, por exemplo, sou bastante afetiva. Sinto-me estimulada a agarrar o primeiro objeto ou pessoa que vejo pela frente e pressionar contra meu peito. Eu tenho carência de afeto. Muitas coisas no autismo, são " automatizadas".
O cérebro automatiza movimentos, aprendi isso porque pratiquei " artes marciais".O que me atraiu nas artes marciais é que a repetição de movimentos, conseguiu amenizar minha necessidades repetitivas.
Certa vez, enquanto balançava-me numa rede fui impulsionada a girar no ar e cair de bruços(como fazem os gatos), pois a rede estava despencando e conseqüentemente, eu estava caindo. O mais curioso é que eu estava num estado semi-dormente. Isso aconteceu porque meu cérebro entendeu que eu estava " caindo" e como fiz judô, automaticamente, " girei" no ar.
Coisas " estranhas" acontecem quando se é um portador de autismo. Por exemplo, certa vez um rapaz veio consertar nosso computador e trouxe a mãe dele. Ela sentou ao meu lado. Havia muita informação na sala: um rapaz consertando um computador, minha mãe conversando paralelamente com a mãe do rapaz e eu sentada balançando as pernas.
Meu cérebro selecionou escutar a conversa entre minha mãe e a mulher, automaticamente, abracei-a fortemente; mas, na minha mente, eu estava abraçando a minha própria mãe, mesmo que estivesse a vendo na minha frente " conversando". Confuso?
Minha mãe dirigiu a palavra a mim, dizendo: " Talita, por que está abraçando a mãe do rapaz?". Meu cérebro queria dizer: " Mas, mãe estou abraçando você". Este foi um dos meus " momentos autisticos". Na SA, autismo, TID, TEA e síndromes afins, temos o "hiperfoco" ou " uma parte pelo todo". Nós focamos em um detalhe e esquecemos do resto.
A última coisa no mundo que alguém irá me dizer é que tenho autismo: gosto de me arrumar e ficar bonita; sou absurdamente inteligente; gosto de ser carinhosa e dizer as pessoas que as amo e que são importantes para mim; gosto de dar presentes e me sentir amada; tenho tristeza, dor, alegria e vontades e pior, SOU TOTALMENTE CONSCIENTE de que existo, o que para alguns, é impossível no autismo.
Meus pais não suportam esta palavra " AUTISMO". Para eles, autismo é uma condição que irá me incapacitar de ser feliz e que me levará a ter uma fama de esquizofrênica, louca, psicótica e doente mental; algo que irá causar reações de preconceito.
Momentos autísticos fazem parte de toda a minha trajetória de vida.
É impossível separar a SA de dispraxia(não sentir a posição do corpo), por isso, a maioria tem "cacografia" e problemas motores. No entanto, quando estamos " concentrados" em algo, sentimos o nosso corpo ganhar peso, forma e volume. Por isso, muitos TIDs são dejaseitados, no entato, conseguem empilhar blocos com grande equilíbrio. Irônico, não?
No meu caso, por ter todas as características " leves", tenho problemas em sentir se minhas pernas estão " abertas" ou " fechadas". Tenho problemas com a postura do meu corpo e até mesmo em sentir se roupas estão bem colocadas: por isso, puxava-se muito minhas calças para que minha bunda não aparecesse em parte. Mas, nos casos graves de autismo, não se sente nem o corpo. Por isso, podem girar e não sentir tontura; não ter real medo de altura. E citando meu exemplo, podem gostar de ler de ponta-a-cabeça.
Quando criança, eu gostava de ler de cabeça para baixo.
Os não-autistas mudam de canal rapidamente, os autistas, não. Muitas vezes, quando alguém conversa comigo tenho dificuldade de mudar de canal, ou seja, de pensamento. Um bom exemplo seria uma grande estrada, com duas pessoas indo em direções bem distintas: Uma começa a gritar e a outra não entende, precisa-se aproximar para escutar muito bem o que lhe é dito. Eu realmente sei que devo dar uma resposta, mas, não consigo mudar de pensamento ou me encaixar na conversa, o que, isso faz as pessoas pensarem que estou " temporariamente surda". Eu simplesmente, gostaria de dizer: " ainda estou pensando no que você me disse e você está dizendo outra coisa".